segunda-feira, 25 de abril de 2011

Se canto sou ave, se choro sou homem
Se planto me basto, valho mais que dois
Quando a água corre, a vida multiplica
O que ninguém explica é o que vem depois... depois
No alto da montanha o vazio é tamanho
No ventre do mar a treva é abissal
Indo pela beira falta sal na vida
O que ninguém ensina é o ponto do mingau
Numa pirueta o corpo se agiganta
Bate uma preguiça, a fé fica pra trás
O amanhã num instante vira agora
Eu juro que ninguém me disse que era nunca mais...que era nunca mais
No dedo mindinho levo o meu carinho
O anel de safira vai no anular
Pai-de-todos manda, fura-bolos fura
Viro o azar em sorte no meu polegar
Mão de milho, mão de irmão que dá e tira
Sumo de mentira, escapo e digo sim
Meia-volta e o par é quem topa a quadrilha
E ninguém me livra de ser livre em mim
Esfrego e um gênio cumpre três desejos
Fantasio a morte, engano a dor banal
O que ninguém me rouba é o sonho de gigante
E o tudo e o nada, juntos brincam o carnaval
Nunca é tarde pra acender a lamparina
E enxergar além da vaidade vã
Nunca é nada pra quem curte uma saudade
E niguém me nega a luz dessa manhã
Quem disse que ser feliz é o fim de tudo?
O que ninguém me tira é o começo de mim
Meu canto é maior quando o mundo é mudo
E o que muda o mundo é a chance de Aladim...a chance de Aladim
O amor é tudo, o diabo quer chamego
Nunca é muito cedo pra se achar a rima
Pego a lã, o pão, a viola, e o canivete
O que ninguém me dá, eu pego e danço em cima
O que ninguém explica, o que ninguém revela
O que ninguém me disse, o que ninguém me dá
O que ninguém me ensina, o que ninguém me livra
O que ninguém me entrega, é certo, Deus dará
É certo, Deus dará, certo, Deus dará...

Chance de Aladim - Luli

domingo, 21 de novembro de 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

Meio intelectual, meio esquerda



Bar ruim é lindo, bicho
Meio intelectual, meio de esquerda

de Antonio Prada

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. “Ô Betão, traz mais uma pra gente”, eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins, que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha.
Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol…

Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas.
Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV.
Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo.
Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae.Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil!
Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

sábado, 24 de julho de 2010

palavras pequenas

Tempos e tempos, bons e outros melhores, cheiros, gostos, salivas, cores, sons e sentidos. O mundo melhora quando estou com você, ao final de tudo, por ser final uma tem que ir embora. Prefiro a fome a ter que entra no ônibus sozinha e me dopar até chegar em casa com gosto de solidão e de saudade. É pouco o que consigo decifrar através dos sentimentos, necessito do que ainda não tem nome, do que não sei, preciso de você sozinha e de todos ao nosso redor, da liberdade de estar presa aos seus braços e de tudo o mais que nos compreende. Penso o dia inteiro e chego a conclusão de que quero seu nome, suas letras miudinhas, seus carinhos e beijos sem fim, da sua voz doce e feroz, quero você. Desculpa se te quero imensamente, mas me perdoe ainda mais por não saber descrever tudo o que sinto. E tem o seguinte: não importará nada do que eu diga, o que eu sinto é muito maior. (Janaína Guedes)

amor.

"O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Não tomo banho. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu. "
(Caio Fernando Abreu)

sábado, 10 de julho de 2010

Tanto Amar =D

É na soma do seu olhar
Que eu vou me conhecer inteiro
Se nasci pra enfrentar o mar
Ou faroleiro

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela acredita
Tem um olho a pestanejar
E outro me fita

Suas pernas vão me enroscar
Num balé esquisito
Seus dois olhos vão se encontrar
No infinito

(Chico Buarque)
"À noite, sozinha na cama, amargura, culpa, choro envergonhado, desejos inconfessáveis, pensamento em Gonçalo."
(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

...voa, voa...

Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho,

eles passarão.

Eu passarinho.
(Mário Quintana)

domingo, 4 de julho de 2010

Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.

(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 29 de junho de 2010

E por falar em estrelas...


Quatro rapazes tímidos com muita personalidade e que muito bem falam sobre o amor, de um jeito nada clichê e super genial, simples e sincero. Nem todo mundo entende e admira esse modo deles de fazerem música, o que torna a banda mais atraente. Esses barbudos são uma das melhores coisas que apareceu na músicas brasileira.

Veja você, onde é que o barco foi desaguar
A gente só queria um amor
Deus parece às vezes se esquecer
Ai, não fala isso, por favor
Esse é só o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida
Que a gente vai passar

Veja você, onde é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder
E se amar, se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar
Deixa o moço bater
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar

Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem

Diz, quem é maior que o amor?
Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora
Vem, vamos além
Vão dizer, que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela vai cair

(Conversa de Botas Batidas - Los Hermanos - Composição: Marcelo Camelo)